Novo paradigma de cuidados de saúde - cuidados de proximidade!

05-09-2011 23:17
 

 

Novo paradigma de cuidados de saúde - cuidados de proximidade!

       

A Solução - UM NOVO PARADIGMA NA FORMA DE ARTICULARMOS OS CUIDADOS DE SAÚDE

(continuação do artigo anterior).

 

Como abordamos no artigo anterior, TORRES VEDRAS é verdadeiramente a Cidade da Saúde devido à quantidade (e qualidade) das infra-estruturas de saúde que possui, públicas, das IPSS(*) e privadas. Mas os doentes continuam a ir a Lisboa para exames/consultas/tratamentos, e fazem-no muitas vezes.

A questão que se coloca é a seguinte: não poderemos articular as respostas locais existentes e evitar este corrupio de doentes?

Claro que parece óbvia uma nova atitude organizacional. Necessitamos de inovar nos processos, na forma como fazemos as coisas. E o novo paradigma será, em nossa opinião, aproveitar o que existe, planear e articular as necessidades com as respostas locais. A escassez dos recursos e a imposição de novas regras na saúde vão ajudar-nos a seguir este caminho!

Em primeiro lugar maximizar as respostas dos hospitais e centros de saúde do SNS: não se percebe porque estão parados por longos períodos de tempo e os seus médicos abandonam o seu local de trabalho, após cumprir o seu horário de trabalho. Normalmente vão dedicar-se a actividade privada noutra instituição ou no seu consultório. Porque não adoptar outro procedimento, como se faz em Inglaterra por exemplo, dedicar o restante do seu tempo à actividade privada no “seu” hospital, pagando uma renda à instituição, sendo esta uma receita do SNS, maximizando ao mesmo tempo a utilização dos equipamentos e das instalações?

Em segundo lugar, porque não aproveitar o potencial das Misericórdias e das IPSS, contratualizando serviços onde existam estruturas e equipamentos (em vez de duplicar desnecessariamente instalações e equipamentos), planeando de forma integrada a resposta às necessidades, numa perspectiva local? É aceite inclusive que as IPSS, de modo geral, conseguem preços menores, comparados com os mesmos serviços realizados pelo SNS.

E em terceiro lugar, porque não contratualizar com as entidades privadas determinadas áreas específicas com insuficiente resposta do SNS, numa lógica de resposta local, através de unidades funcionais, exames ou tratamentos específicos que essas unidades possam satisfazer?

Claro que a resposta do SNS terá que ser abrangente e universal. Mas terá que ser o SNS a fazer tudo, mesmo que isso fique mais oneroso, obrigando a enorme estrutura equipamento e pessoal? Não seria mais razoável que o SNS fizesse parceria com estruturas e serviços que existam localmente, desde que tragam ganhos para a saúde dos doentes/utentes e seja mais barato (mais eficiente)? Esta eficiência poderá corresponder a um menor preço pelo mesmo serviço ou a evitar a aquisição de um equipamento novo ou instalação de um serviço novo, a construção de um hospital, pois tudo já existe mesmo ali ao lado. E a realidade é que não temos dinheiro para esses floreados de antigamente!

E desta forma, menos doentes teriam que se deslocar a LISBOA, como vimos no artigo anterior!

 

PAPEL REGULADOR DO ESTADO

Como nota final gostaria de referir que caberá também ao Estado o papel da regulação e o controlo de qualidade. A regulação passará pela definição de regras que promovam a qualidade. Essas regras deverão ser realistas e estimuladoras da actividade e não deverão por obstáculos permanentes a quem quer actuar correctamente. Referimo-nos desde logo à legislação que não existe e tarda em sair, bloqueando, por exemplo, os licenciamentos da Unidades de Saúde. Deveremos ter em conta que não somos um país rico como se pensava e não necessitamos de Unidades da saúde luxuosas, basta que sejam funcionais e tenham em conta os aspectos da segurança!

Quanto ao controlo de qualidade este deverá ser realizado com recurso a indicadores (como os mostradores do tablier do automóvel), construídos pelas partes envolvidas. Os indicadores deverão medir aquilo que se pretende que meçam e, desta forma ajudar o SNS a não comprar gato por lebre, ao procurar o menor custo do serviço.

 

Em resumo: se articularmos localmente a prestação dos serviços de saúde, ajustando a procura às respostas locais existentes, envolvendo as entidades prestadoras da saúde locais (nomeadamente as IPSS), trazendo as autarquias para o planeamento da saúde e permitindo que o SNS tenha a capacidade de avaliação dos indicadores, que se querem robustos e bem desenhados, poderemos dotar cada ACES ou ULS(*) com a capacidade de responder de forma precoce e em proximidade aos cidadãos e economizar recursos. Estes poderão ser usados para maximizar a eficácia e a efectividade dos cuidados de saúde, tornando também o SNS mais equitativo e sustentável.

E TORRES VEDRAS – a cidade da saúde, poderá ser pioneira na prestação dos cuidados de saúde, assim todos nós queiramos!

José Henriques

Médico Oftalmologista

Director Clínico do IRL – Instituto de Retina de

 

(*) – IPSS –Instituição Particular de Solidariedade Social, ACES – Agrupamento de Centros de Saúde , ULS – Unidade Local de Saúde,

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